11 de janeiro de 2010

"É Tempo de Adaptação"

[excerto de artigo]

(…) a guerra global contra o carbono não correu bem para a atmosfera. A verdade realmente inconveniente é: Estamos fritos. Assados. Cozidos. Mais do que admitem muitos "carbonistas" de dedo em riste. Segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration, o C02 que já está no ar ou a ser canaizado para ele alimentará um aquecimento "irreversível" durante os próximos 1000 anos. Qualquer plano improvisado em Copenhague para atrasar — esqueça-se inverter — o aumento de gases de estufa será fazer muito pouco e tarde demais. No adequado calão da indústria, um planeta mais quente já está "no forno". James Lovelock, o químico britânico que rebaptizou a Mãe Terra como "Gaia", diz a verdade baça: Podemos carregar num botão "Undo" do carbono? "Não temos o raio de uma chance".

Eis agora algumas boas notícias. Podemos ainda safar-nos. Porque, devido a um desses golpes de sorte que parecem seguir a espécie mais abençoada da Terra, as alterações  climáticas chegam exactamente no momento em que temos — ou temos à vista — uma panóplia de ferramentas para adaptar e estender a civilização humana a qualquer ambiente. Agora, o Homo sapiens espalha campos de golfe através de desertos, anda de carrossel no espaço exterior, actualiza os seus perfis Facebook a partir do Pólo Sul. E a mudança tecnológica está a acelerar. Em 2050 — a hora zero para muitos cenários de aquecimento — a primeira década do século 21 parecerá tão primitiva quanto o final do século 19 puxado a cavalos parece agora. (…)

Vale a pena termos presente que o planeta que habitamos esteve sempre fundamentalmente fora de controle, movido por sistemas fantasticamente complexos e caóticos que mal compreendemos. Com ou sem a nossa ajuda, a querida Mãe Terra é capaz de produzir circunstâncias altamente hostis para a vida humana. Pegue-se em qualquer cisne negro* que desejarmos — que tal o próximo asteróide, ou uma superepidemia asiática, ou aquele vulcão em Yellowstone? As alterações climáticas poderão acabar por ser apenas uma nota de rodapé.

Há muitas razões para que evitemos desviar as nossas prioridades para a adaptação. Para começar, "Estamos fritos" não é a ideia que ninguém faz de uma chamada às armas. Mas, de facto, uma apreciação honesta de onde nos encontramos deveria ser o ponto de partida para um debate mais importante (e muito mais interessante). A verdadeira questão não é como poderemos manter as coisas tal como estão, mas sim como sobreviveremos, e talvez mesmo prosperemos, num planeta mais quente. Sim, devíamos continuar a trabalhar na diminuição do carbono. Mas precisamos de ser realistas sobre o que isso pode conseguir e aquilo que é incapaz de fazer.

Arriscando-me a soar terrivelmente petulante, a mudança é boa. A sério. Sem os desafios infligidos pelo nosso ambiente volátil, começando com uma desagradável extinção de mais de 80 por cento das espécies, a Terra seria ainda o planeta das trilobites. Precisamos apenas de descobrir uma maneira de fazer aquilo que sempre fizemos: adaptar-nos e — se a tanto me atrevo — evoluirmos. E começarmos então a preparar-nos para a próxima era glaciar.

* "Cisne negro" é o termo cunhado pelo académico libanês Nassim Nicholas Taleb para designar um fenómeno imprevisível que tem um grande impacto.

— Spencer Reiss, in "Climate Change Is Inevitable — It’s Time to Adapt", publicado em Wired

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