11 de janeiro de 2010

"A Continuidade Surpreendente das Antigas Tecnologias"


[excerto de post de Kevin Kelly]

xxxxCompro um computador novo de dois em dois anos. Mudo de câmaras digitais ainda mais depressa. O software do meu ambiente de trabalho actualiza-se mais ou menos todos os meses. Não há praticamente nada na minha casa inteira que seja mais velho do que eu. Tomamos como garantida a rápida rotatividade da tecnologia. Assumimos que as nossas salas de estar reflectem o estado da tecnologia, mas assumimos mal.

Há uma continuidade surpreendente nas antigas tecnologias. Uma das consequências inesperadas das tecnologias modernas é a forma contraintuitiva como elas mantêm em funcionamento as clássicas tecnologias manuais mais antigas. Gadgets e electrodomésticos, a produtividade agrícola moderna, quinhentos canais de comunicação e tudo o restante da vida moderna deram-nos não apenas um meio de aprendermos antigas artes, mas também o tempo de lazer para praticá-las. Ouvi alguns peritos calcularem que o número de fabricantes de espadas e de ferreiros que hoje trabalham iguala o número de fabricantes de espadas e de ferreiros que trabalhavam há centenas de anos atrás. Para além do nosso actual modo de lazer que encoraja os entusiasmos amadores, a nossa maior população inflacciona o número total de artesãos (do mesmo passo que a sua percentagem diminui). Faz-se a mesma afirmação sobre fabricantes de telescópios, tecelões e vitralistas — que um número maior deles estão vivos e produtivos hoje do que alguma vez antes. Não tenho quaisquer dados sobre esses números (…), mas na minha busca de sustentação para estas afirmações deparei com um grupo que pratica aquela que é provavelmente a tecnologia mais antiga da história humana — lascar pedra. Trata-se do artesanato de transformar pedra em pontas de flecha e de lança.

Surpreendentemente, um número muito grande de novas pontas de pedra é feito todos os anos — precisamente através do mesmo método manual que usavam os caçadores neolíticos. (…)

— Kevin Kelly, in "Surprising Continuity of Ancient Technologies", publicado em The Technium

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