11 de janeiro de 2010

"Um Clima de Negócios"

[excerto de artigo]

A única forma de o aquecimento global poder ser "vendido" às pessoas do Ocidente é enquanto oportunidade de negócios. Do mesmo passo, as tecnologias verdes, através das quais todos ficaremos mais ricos, salvarão o planeta. Quem poderia alguma vez discordar desta situação "todos ganham"? Nenhum outro apelo carrega uma convicção equivalente. Donde que todo o debate sobre a alteração do nosso "modo de vida" deva ser subordinado ao potencial revolucionário de tecnologias futuristas, que, miraculosamente, nos salvarão dos efeitos dos anteriores milagres da tecnologia que nos trouxeram até este impasse.

Há muito que o mundo natural foi usurpado pela tecnoesfera, tal como sugere uma linguagem de conquista imperial: o clima dos negócios, ambiente económico, a atmosfera para o investimento, tsunamis financeiros, tempestades, calmarias e depressões económicas — todos eclipsam os elementos que sustentam a vida. É inevitável que devamos procurar a salvação nos negócios. E, de momento, os proponentes dos negócios universais têm alguns aliados inesperados: subitamente, os carpidores do apocalipse estão todos do lado dos místicos empresariais que conhecem a arte de sairmos da ruína fazendo compras.

A nossa melhor esperança seria desacoplarmo-nos das melancólicas regras do mercado, ao invés de dependermos crescentemente do mecanismo que criou o espectro de um planeta dessicado em alguns lugares, submerso noutros. Que isto não mais seja possível é um amargo comentário sobre os limites de uma liberdade que, sem aparentemente ninguém reparar, foi diminuída ao ser trocada por riqueza, em especial a liberdade de fazer as coisas de forma diferente, de alterar férreas leis económicas, de imaginar outros modos de viver, talvez mais austeros talvez mas talvez também mais alegres e menos destrutivos do único habitat que temos, pelo menos até os planetas terem sido colonizados tal como foram os continentes outrora remotos.

Os idealistas e utopistas foram amiúde criticados pelo seu aparente abandono do "mundo real". Mas o que poderia ser mais utópico do que a ideia de um mercado auto-regulador, uma entidade enorme que foi libertada da sociedade há 200 anos, baixo o sinistro e determinista estandarte da qual toda a humanidade deve agora encontrar a sua sorte? Estamos a viver com as consequências dessa ocorrência distante, a qual durante dois séculos celebrou o triunfo do mercado sobre a sociedade. (…)

Uma tal aproximação poderá ser impossível. Mas ela demonstra a tenacidade da fé — e a crença nas forças do mercado atingiu um estatuto aproximando-se de um culto, se não mesmo de uma verdadeira religião. Mostra também como a fé não é enfraquecida, sendo ao invés reforçada, por evidência desconfirmadora. Aquilo a que estamos a assistir, por entre a exaltação da congregação de bien-pensants em Copenhague, é ao endurecimento de ainda outro fundamentalismo, num mundo que já viu exemplos demais dele. Se os "negadores do aquecimento global" são desprezados, é por tornarem explícita a ideologia que está de facto a ser conservada por trás da retórica revolucionária em Copenhague. Está-se a lidar ferozmente com os cépticos do aquecimento global porque eles revelam aquilo que devia estar escondido — que o objectivo é um retomar do business-as-usual do capitalismo universal sob o manto benigno da energia verde. Os cépticos atingem o estatuto de herejes e desmancha-prazeres porque deixaram o gato sair do saco ecológico. (…)

— Jeremy Seabrook, in "A Business Climate", publicado em The New Internationalist

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