11 de janeiro de 2010

"Escutando os Elefantes"


[excerto de artigo]
(…) Pouco tempo após o 11 de Setembro, a minha mulher, Marie, e eu fomos de novo ao norte do Quénia, para visitar os Turkana, os quais insistem que as secas só se manifestaram desde a primeira aparição do homem branco na África Oriental. Um curandeiro — um vidente — disse-nos, "Nos velhos tempos, havia sempre chuva e os Turkana viviam em paz". Hoje, as chuvas já não chegam quando costumavam. Os Turkana acreditam que o elefante se encontra junto a Deus e que o avistamento de um elefante assinala a iminência de chuva. (…) Hoje, muitos Turkana acreditam que a falta de elefantes no norte, devido à caça furtiva, é um augúrio de que a chuva não virá. As recentes secas — que se contam entre as piores em décadas — poderão ser parcialmente explicadas pelo quase completo desaparecimento do reverenciado elefante da Terra Turkana?

Os Samburu do Quénia acreditam que, tal como os videntes que conseguem prever a chuva, o elefante sabe quando esta está a chegar. A aparição súbita de elefantes após muitos meses de seca sugere que a chuva vem a caminho. Como sabem os elefantes que as chuvas se aproximam é um segredo que mesmo os videntes desconhecem. Esse conhecimento é da ordem de outra língua.

Foi dos pastoralistas Samburu, cuja relação com o elefante é talvez única em África, que conseguimos descortinar parte de uma aliança sagrada e notável. Após muitas viagens a África, em Setembro de 2007 Marie e eu levamos o nosso filho, Lysander, a tocar o solo de África pela primeira vez. Disse-nos Pacquo, um ancião Samburu do Quénia central, que durante o auge do massacre dos elefantes há trinta anos atrás, uma manada de trinta ou mais elefantes órfãos, que tinham perdido a família inteira, de algum modo conseguiram chegar ao território Samburu, tendo viajado durante dias para alcançar uma aldeia onde lhes foi concedido santuário. Hoje, a manada remanescente de elefantes da Cordilheira Matthews deve-se à compaixão dos Samburu e ao seu reconhecimento de que o elefante é uma extensão do seu próprio ser. Na verdade, os Samburu, bem como os Masai, têm um conceito — tenebo — que encara a coerência da dinâmica familiar dos elefantes como um modelo para as interrelações humanas. (…)

Hoje, a humanidade precisa de se virar para os elefantes para ouvir uma voz singular, uma mente que evoluiu connosco e nos influenciou em termos biológicos, culturais e míticos durante toda a nossa evolução. O trauma que os elefantes experimentaram ao longo das últimas décadas não é completamente mensurável pela humanidade. Na verdade, apenas algumas pessoas conseguiram romper o fosso humano/não-humano de modo a insistir que os elefantes — ao matarem aldeões na Índia e no Sri Lanka, ao violarem rinocerontes tal como fizeram na África do Sul, e ao exibirem a desordem do stress pós-traumático como documentado pelo psicólogo Gay Bradshaw — estão a exibir sintomas de uma doença muito maior: o colapso não apenas do habitat e da estrutura familiar, mas também da mente através de toda uma espécie. Este colapso é sintomático da desagregação da natureza tal como a temos conhecido. O laço insubstituível que temos tido com o elefante é uma aliança que precisamos de salvar não apenas em prol do futuro do elefante mas também do nosso.

— Cyril Christo, in "Gray Thunder: Listening to Elephants", publicado em Orion Magazine

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