11 de janeiro de 2010

"As Calças de Pitágoras": excerto de livro

 (…) À semelhança da expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden bíblico, os físicos da TDT [Teoria de Tudo] têm concebido a história do universo como um declínio de um estado de perfeição original. E, como na tradição cristã, anseiam por retornar a este estado seminal de "graça". Este é o seu Éden matemático. (…)

Tal sonho não é de modo algum óbvio pois, mesmo com aceleradores de alta energia, a física continua a revelar não uma unidade, mas uma riqueza avassaladora de multiplicidade, incluindo a pletora sempre em expansão de partículas subatómicas. Em face de tal evidência manifesta do contrário, é preciso um enorme salto de fé para acreditar que por baixo desta abundância existe um princípio único. Sugiro que esta fé não pode ser justificada em termos puramente científicos, mas que deve ser vista também como emergindo parcialmente de tradições culturais, em particular a tradição judaico-cristã do monoteísmo. Afinal de contas, não há qualquer razão a priori para que o universo não pudesse ter sido formado segundo uma multiplicidade de princípios — uma versão científica do politeísmo. Isto não é negar a existência de evidência científica apontando para uma unidade entre as forças; há decerto alguma, mas está longe de ser esmagadora, e a fé quase fanática na unidade que evidenciam os físicos da TDT transcende a evidência correntemente disponível. (…)

Os substratos religiosos da demanda da TDT não são apenas subliminares; cada vez mais, os próprios físicos da TDT estão a associar uma teoria unificada a Deus. O mais famoso neste campo é Stephen Hawking. Na introdução ao best seller internacional de Hawking Uma Breve História do Tempo, Carl Sagan alerta o leitor: "A palavra 'Deus' enche estas páginas. Hawking parte em demanda da resposta à famosa pergunta de Einstein sobre se Deus teve alguma escolha ao criar o universo. Hawking tenta, como explicitamente afirma, entender a mente de Deus". (…)

—Margaret Wertheim, in "As Calças de Pitágoras: Deus, a Física e a Guerra dos Sexos", edição Via Óptima

Sem comentários:

Enviar um comentário