12 de janeiro de 2010

"A Mente na Floresta"

[excerto de artigo]

(…) Aqueles que imaginam que os seres humanos são superiores ao resto da natureza usam muitas vezes "abraça-árvores" [tree-hugger] enquanto expressão ridicularizadora, como se sentir o encanto das árvores fosse alguma forma pervertida de sensualidade ou um remeter à nossa ancestralidade símia. Evidentemente, muitos dos que lamentam o abraçar de árvores não acreditam que temos uma ancestralidade símia; receiam pois, talvez, uma reversão ao paganismo. E podem ter um argumento válido. As religiões que começaram no Médio Oriente — o Judaísmo, o Cristianiosmo, o Islão — são todas fés do deserto, criadas por pessoas que viviam ao ar livre. O seu é um deus do céu, que seria eclipsado pela cobertura de uma floresta. Em todas as civilizações influenciadas por estas fés, abateram-se árvores não apenas com o intuito de garantir lenha para cozinhar ou construir, ou de limpar o solo para a agricultura, ou de abrir campos de visão em redor de aldeamentos onde predadores poderiam emboscar-se, mas sim para revelar os céus.

A adoração de um deus celeste sempre foi dispendiosa para o nosso planeta. As religiões que opõem o celestial ao terreno, elevando o primeiro e desprezando o segundo, estão de facto a negar que emergimos da natureza e dependemos inteiramente dela. Se pensarmos que o mundo material — tocável, comestível, escalável, sexy e cantador — é decaído, corrupto e pecaminoso, então provavelmente abusaremos dele. Provavelmente diremos que podemos muito bem abater as últimas florestas primordiais, secar os últimos pântanos, pescar os últimos atuns e bacalhaus, queimar as últimas gotas de petróleo, já que vem aí o final dos tempos, quando os poucos eleitos serão extaticamente transportados para o domínio imortal, e tudo quanto há de terreno será completamente apagado.

Mas a nossa linguagem preserva uma sabedoria contrabalançadora. Em latim, materia significa coisas, tudo quanto seja substancial, e em particular significa lenha. Materia deriva por sua vez de mater, que significa mãe. Na imaginação colectiva que deu origem a esses significados, entendia-se que as árvores eram o epítome da matéria, e entendia-se que a matéria dava vida. Talvez possamos ligar-nos a esta sabedoria recuperando outra palavra que deriva de matermatrix, que significa útero. Em vez de falarmos sobre a "natureza" ou "o ambiente", talvez devêssemos falar da Terra como a nossa matriz, a nossa mãe, a fonte e o sustento da vida (…)

— Scott Russell Sanders, in "Mind in the Forest", publicado em Orion Magazine

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