11 de janeiro de 2010

"GPS em Ajuda de Tribos Amazónicas"

[excerto de artigo]

Wuta está praticamente nu, excepto pela faixa de algodão vermelho amarrada à volta da cintura e pelos colares de contas amarelas que enfeitam o seu torso musculado. Nas suas mãos, porém, segura algo que o situa firmemente do século XXI: um dispositivo GPS.

Membro da tribo Trio, Wuta está a conduzir-me pela floresta tropical perto da sua aldeia no sul do Suriname — a uma hora de voo de Cessna da estrada mais próxima. Na base de uma grande árvore da qual pende uma cascata de lianas, Wuta aponta o seu GPS para o céu: não há sinal. Manipula um botão e alguns minutos depois consegue uma leitura. Indica as coordenadas a um colega cartógrafo Trio que está a seu lado, o qual as anota diligentemente. Wuta continua então a marcha, demonstrando como ele e outros nativos fizeram o levantamento topográfico, a pé ou de canoa, de cerca de 20 milhões de hectares de terra aqui na fronteira norte da Amazónia.

Para evitar serem cilindrados por construtores, rancheiros, madeireiros, mineiros, empresas petrolíferas e biopiratas, tribos através de toda a Bacia Amazónica têm vindo a adquirir ferramentas high tech que lhes permitam defender-se. A maior parte da ajuda neste esforço tem vindo da Equipa de Conservação da Amazónia, uma organização de preservação ambiental e cultural sediada na Virgínia, que forneceu equipamento, experiência cartográfica e assistência financeira. Agora, dúzias de homens como Wuta estão a calcorrear as florestas, fazendo levantamentos topográficos das suas terras com a ajuda de dispositivos GPS portáteis.

Evidentemente, só porque as tribos conseguiram cartografar as terras não significa que controlem todos os direitos legais destas. Mas é um passo nessa direcção. O Suriname usa agora mapas gerados pelos Trio e por outros grupos enquanto documentos governamentais oficiais. No Equador, a tribo Shuar, há muito envolvida num conflito com companhias petrolíferas americanas, recebeu recentemente a titularidade das suas terras comunitárias tal como cartografadas por GPS. A maciça campanha de levantamento topográfico e de delineação de fronteiras outrora imprecisas, levada a cabo por pés calçados de sandálias, deu também às tribos maior confiança para afirmarem os seus interesses — em alguns casos, os nativos expulsaram mineiros ilegais e estabeleceram aldeamentos e postos de vigia nas fronteiras das suas terras.

Em adição â cartografia GPS, as tribos estão a usar o Google Earth com fins de vigilância territorial. As imagens de satélite desta aplicação conseguem identificar ameaças — digamos, a expansão ilegal de uma plantação de soja, ou um rio manchado por efluentes de uma mina de outo. Algumas tribos do Brasil com acesso à Internet estão a marcar as coordenadas de actividades subreptíciais que vêm nas imagens, investigando então a pé ou passando a informação a autoridades governamentais. (…)

— Andy Isaacson, in "With the Help of GPS, Amazonian Tribes Reclaim the Rain Forest", publicado em Wired, via WolrdWebEyes

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